Êxodo: Deuses e Reis
Diretor: Ridley Scott
Roteiro: Adam Cooper, Bill Collage e Steven Zaillian
Elenco: Christian Bale, Joel Edgerton, John Turturro,
Aaron Paul, Ben Kingsley e María Valverde
Classificação Etária: 14 anos
Nota CriticaHit: 8,0
Filme Falha Mas Cumpre Seu Papel
Novo filme do diretor Ridley Scott, Êxodo: Deuses e Reis deixa de lado a história clássica de Moisés ( Christian Bale ) abandonado ainda bebê em meio à realeza egípcia para mostrá-lo adulto, como general do Faraó Seti ( John Torturro ) e grande amigo do herdeiro ao trono Ramsés ( Joel Edgerton ). A partir dessa mudança, o novo protagonista se mostra mais humano, cheio de dúvidas, diante de uma jornada espiritual inquietante. Só isso já faz a nova versão da velha história se tornar mais interessante do que era esperado.
Este Moisés começa cético em relação à religião e sua preocupação com os judeus não vai além de uma empatia pela situação precária dos escravos no Egito. Somente quando um ancião chamado Nun ( Ben Kingsley ) revela ao protagonista que ele é, de fato, judeu, o rapaz começa a aceitar a sua verdadeira identidade e entende que é o único que pode libertar seu povo. Banido pelo agora Faraó Ramsés, Moisés vaga pelo deserto até que chega a uma aldeia onde conhece Zípora, sua futura esposa.
A trama então salta alguns anos até um acidente o levar a encontrar Deus, interpretado pelo garoto Isaac Andrews. Nunca fica claro se o protagonista teve uma alucinação ou se, de fato, conversou com Deus. O que importa é que, a partir desse momento, Moisés começa a se comportar de forma errática e entende que não terá paz enquanto não libertar os judeus da escravidão. Ele parte em sua jornada, sem saber que trará consequências devastadoras ao povo que amou desde pequeno por meio das 10 pragas divinas da bíblia, cada uma delas um show espetacular de computação gráfica.
Scott aborda a história como a clássica jornada do herói e é muito seletivo sobre quais partes da vida de Moisés abordar. Ele começa como guerreiro, se torna político e homem de família. Embora essa não seja a melhor atuação de Christian Bale, o ator se esforça para convencer no papel principal e as cenas em que discute com Deus estão entre as mais cativantes da produção, com o jovem Andrews mandando tão bem quanto o ator veterano.
Isso não significa que a escalação de Bale tenha sido a melhor escolha para o papel, afinal, assim como grande parte do elenco, ele é ocidentalizado demais e isso causa muita estranheza. Pior, o ótimo elenco é constantemente subutilizado, deixando ótimos personagens com passagens curtas ou mal construídas.
O antagonista é outra decepção, já que Joel Edgerton não é capaz de encarar Ramsés de forma ameaçadora. Fica claro que a ideia do ator e de Scott era humanizar a imagem do Faraó, especialmente quando as Dez Pragas assolam o Egito, atingindo, inclusive, sua família, mas, no final, ele apenas se torna um inimigo apático, bem diferente de Yul Brynner em Os Dez Mandamentos, que transformou o vilão em alguém tão memorável como o herói de Charlton Heston.
Entretanto, o maior erro de Ridley Scott foi se esforçar para fazer o público entender a injustiça e horror da forma como os judeus era tratados e abusados nas mãos egípcias. Nunca conhecemos realmente o povo, apenas vemos ministros egípcios comentando sobre o número de escravos, o que distância os oprimidos do espectador. Sem falar que outro ponto importante, Os Dez Mandamentos, ficam de lado e aparecem em apenas uma cena rápida.
Apesar dos problemas, Êxodo: Deuses e Reis tem méritos por abordar a história clássica de forma diferente, sem pisar na bola como aconteceu em Noé. A tentativa do diretor de manter os milagres de Moisés no limite das explicações científicas e do misticismo é boa saída para não desagradar a religiosos e céticos e funciona bem na trama. A narrativa só perde ritmo quando chega a hora das dez pragas, que o transformam em um filme de catástrofe acelerado. Entretanto, é exatamente para ver o espetáculo exagerado criado por Scott que a maioria das pessoas irá ao cinema ver esse conto milenar, então, o longa cumpre seu papel.